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Resenha: Cartas de Amor de Virginia Woolf e Vita Sackville-West

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  Quando foi que você recebeu sua última carta de amor? Se você alguma vez já recebeu uma carta de amor, deve ter sido há algum tempo e por isso pode reclamar que o romance está morrendo. A própria ação de escrever cartas é hoje algo romântico, “ainda que novidades sejam a última coisa que uma pessoa quer ou espera encontrar em cartas”, escreveu Vita Sackville-West justamente numa carta para Virginia Woolf. É sobre a correspondência destas duas literatas, além de entradas de diário, que trata o livro “Cartas de Amor”.   Em 1922 Vita Sackville-West era uma famosa escritora e socialite de 30 anos. Por outro lado, aos 40, Virginia Woolf ainda engatinhava na literatura. Um século depois, a posição se inverteu: quase todo mundo já ouviu falar de Virginia Woolf, e Vita saiu do cânone, sendo mais conhecida por sua vida amorosa.   Fascinação foi o sentimento mútuo no primeiro encontro, num jantar em finais de 1922. Dias depois de conhecê-la, Vita já diz para o marido “amo...

Mais uma vez, ele: o bullying

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  Nos últimos dias, três coisas interligadas chamaram minha atenção. Foram: 1-     um suicídio 2- um trabalho escolar 3-     um pesadelo 1-     Foi noticiado o suicídio de um menino de 12 anos causado pelo bullying que sofria, tanto dentro da escola quanto da própria família. A notícia repercutiu na sociedade como um todo, virando conversa em diversos ambientes distintos da escola. Por exemplo: uma senhora, minha colega de pilates, contou que seu sobrinho também sofria bullying por ser gordo. Na escola, ela continua o relato, obrigavam o menino a comer grama achando que assim ele emagreceria - mas só servia como humilhação. O menino desenvolveu anorexia e passou quase um mês internado. Mas a senhora arremata: ele superou o bullying. Será mesmo? 2- Comecei recentemente a fazer aulas de italiano. Faço duas vezes na semana, numa sala que de manhã serve para lições de inglês. Na parede, estão afixadas tarefas feitas na aula, e nela...

Apresentando a Ovelhinha Nuvem

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  Talvez você conheça alguém como a Ovelhinha Nuvem. Não estou falando de alguém branquinho e fofinho, mas se conhecer alguém assim, tudo bem também. Estou falando de alguém cheio de atividades e talentos. Você sabia que a Ovelhinha Nuvem dança salsa, fala mandarim e faz um curso de datilografia? Estou falando, sobretudo, de alguém com grandes sonhos. O sonho da Ovelhinha Nuvem ultrapassa os limites da nossa atmosfera: ela sonha em ir à Lua! Na sua aventura para aprender mais sobre viagens espaciais, a Ovelhinha Nuvem vai conhecer pessoas e animais incríveis, e você pode participar dessa aventura com ela! Compre o livro “A Ovelhinha Nuvem”: https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/a-ovelhinha-nuvem/

Bicentenário de Maria Firmina dos Reis: lendo o conto “A Escrava”

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Em 11 de outubro de 2025, são celebrados os 200 anos de nascimento de Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira - como você pode conferir AQUI . Em homenagem à data, li o conto “A Escrava”, e aqui vão minhas impressões. “A Escrava” foi publicado em jornal em 1887 e trata-se de um relato de uma senhora abolicionista contando um causo. Numa tarde de agosto, passou por ela, correndo, uma escrava (sic, hoje usamos o termo “escravizada”). A ela seguiu-se um feitor, curiosamente de pele parda e que classificava a fugitiva como “douda”, e o filho da mulher, Gabriel. A narradora-personagem despista o feitor e acolhe a mulher, que lhe conta sobre sua trajetória no cativeiro, de menina livre a pequena escravizada, passando pelo traumático rapto de seus filhos gêmeos ainda na infância para serem vendidos. O conto foi publicado no auge do movimento abolicionista, mas na província do Maranhão, cuja elite era majoritariamente branca e arraigada na suposta necessidade de se manter ...

Resenha: Neca, romance em bajubá, de Amara Moira

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  “Só sei que nada sei” - Sócrates E quanto mais eu sei, sei que não sei de nada. Essa foi a sensação ao ler “Neca, romance em bajubá”. É o tipo de livro que não procuraria por vontade própria, mas que foi escolhido no novo clube de leitura LGBTQ+ no qual entrei. Esses tipos de iniciativas são excelentes para ampliar nossos horizontes literários, e com certeza foi o que aconteceu comigo durante esta leitura. Confesso que, quando li o subtítulo “romance em bajubá”, do alto da minha ignorância pensei se tratar do lugar onde a história de passava: de preferência, uma paradisíaca praia da Bahia. Estava totalmente errada, mas existe sim exuberância no bajubá, afinal, trata-se de um dialeto da população LGBTQIA+. Além deste dialeto, a protagonista usa palavras do francês e do italiano, devido à sua passagem por estes países, incluindo algumas aportuguesadas para casar com a pronúncia. Escolhi deixar a leitura fluir, sem ficar indo ao dicionário toda vez que encontrava uma palavra ou ...

Sentir? Sinta quem lê!

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  Durante a pandemia, um companheiro constante foi um livro de poesias de Fernando Pessoa. Dentre todas, amei A Tabacaria, mas minha favorita foi esta, de Álvaro de Campos: ISTO Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está de pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! Assim como muitos outros escritores, aprendi muita coisa de experiências. Uma delas, universal, é que uma hora precisamos colocar o ponto final e por nossa obra no mundo, por mais que queiramos ficar melhorando e reescrevendo vários trechos. Outra coisa que aprendi foi que, uma vez publicada, a obra não é mais só sua: é também de quem lê. Por exemplo: com meu romance “Anos de Chumbo”, tive respostas que não esperava. Uma leitora comparou-o com uma...

O fim de um ciclo

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  No final do ano passado, estive conversando com uma agência de publicidade com foco no mercado literário para recrutar influenciadores literários para uma leitura coletiva de meu romance “Anos de Chumbo”. Quando o publiquei, no aparentemente longínquo ano de 2015, tentei “na raça” ir atrás de blogueiros oferecendo uma cópia do livro em troca de uma resenha. Quando recebia “nãos” - e mesmo nos comentários dos posts originados pelos raros “sim” - a ladainha era a mesma: “deve ser um livro muito pesado”. Sim, é uma narrativa séria, como deve ser encarado nossa história recente. E então veio um golpe para os sonhadores. Não digo que meu livro, single-handedly, poderia ter sido capaz de frear o autoritarismo e o negacionismo. Mas digo que não considerei as “viúvas da ditadura” nos primeiros anos de divulgação do romance. Mas em 2024 não podia mais ignorá-las. Tive receio em encontrar algum influencer de extrema-direita - porque surpresa! Alguns deles sabem ler - que desmereceria...